domingo, 1 de julho de 2012

Interpretar não é adaptar - Pe. Zezinho, scj



Pe. Zezinho, scj

Chega a ser preocupante o modo como alguns pregadores forçam determinadas passagens bíblicas para aplicá-las ao dia de hoje. Sem dúvida alguma todas as igrejas cristãs devem se basear nos ensinamentos bíblicos para o seu cotidiano. Podemos tirar inúmeras lições do passado e dos acontecimentos que marcaram a vida daqueles povos, mas não é certo, não é justo e não é honesto pegar passagens bíblicas e aplicar, sem mais nem menos, aos personagens de hoje.

Por isso foi longe demais aquele pregador entusiasmado que garantiu que Sadam Hussein era o Nabucodosor moderno e que aquele buraco onde ele estava escondido correspondia a determinada passagem bíblica, que a loucura de Nabucodonosor, que pastava e comia grama, equivalia a loucura de Sadam Hussein quando foi encontrado. A pregação era nitidamente pró-americana. Deveria ter dado um predecessor a George Bush.

Para quem quer adaptar a Bíblia ao seu pensamento qualquer passagem pode ser útil e qualquer fato de hoje pode ser ajustado ao fato da Bíblia. A imaginação humana não tem limites, mas daí a dizer que o profeta Isaías queria se referir a tanques, bombas atômicas, ao computador, aos moderníssimos aviões e aos raio lazer é muita ousadia. (Is 66,15) Muito provavelmente o profeta Isaías jamais pensou nessas coisas. Estava falando em linguagem figurada para os povos do seu tempo. Procuremos entender isso e compreenderemos melhor porque se deve ler a Bíblia. Ela é o passado que nos inspira, mas do presente precisamos cuidar com outros conhecimentos mais atualizados, porque as dores do nosso tempo certamente trarão outras profecias. Sem jamais esquecer a Bíblia, saibamos falar de coisas reais, mesmo que não haja passagens bíblicas para fundamentá-las. A Bíblia não disse e não diz tudo.

A maioria dos exegetas sérios de todas as igrejas desaconselha esse tipo de adaptação dos textos bíblicos. Com um pouquinho de esforço alguém poderia dizer que aqueles israelitas que comeram carne de codornizes, pássaros que, aos milhares vieram morrer no acampamento dos israelitas, por terem pedido carne a Moises, foram castigados com a gripe aviária. Já que muitos morreram da ingestão daquela carne.

Naquele tempo, dadas as precárias condições de higiene, é fácil imaginar que muitos apanharam doença por falta de cuidados e de limpeza. No deserto não havia geladeira. Quem quiser ficar com a versão da gripe aviária, provavelmente ficará. Vai parecer mais atual, mais moderno e mais sensacional, mas dificilmente bate com os fatos. Pregadores que acham para tudo uma passagem e uma frase da Bíblia lembram o radialista fanático por Shakespeare que, sempre que desejava mostrar alguma erudição citava uma frase e a atribuía a uma das peças de Shakespeare. Um dia alguém lhe pediu que indicasse o livro e a peça. O radialista saiu-se com essa: -Se não foi ele quem disse, é bem do estilo dele! Consertou, mas não resolveu.

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